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Bula Pontifícia "Spes Salutis Nostrae" | Se proclama o Ano Santo da Esperança

URBANUS, EPISCOPUS
SERVUS SERVORUM DEI

AD PERPETUAM REI MEMORIAM


Bula Pontifícia
Spes Salutis Nostrae


Com a qual se proclama o Ano Santo da Esperança

Aos irmãos na ordem e a todos que esta lerem, saudação e bênção apostólica.

1. Nossa salvação foi realizada quando Nosso Senhor Jesus Cristo, por Sua Paixão e Morte, resgatou os homens de sua antiga escravidão ao pecado e lhes deu vida e liberdade como filhos de Deus, co-herdeiros de Sua própria glória. Ao dar ao Príncipe dos Apóstolos o poder de perdoar pecados, junto com as chaves do reino celestial, Ele tornou possível que os pecadores fossem restaurados à sua antiga retidão e recebessem os frutos da redenção.

2. A Porta da Fé (cf. At 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Batismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos creem n’Ele (cf. Jo 17, 22).

3. “Uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus (…). Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 1-2.5). São Paulo, em sua Carta aos Romanos, assinala uma passagem decisiva na sua atividade evangelizadora, onde se vê um vivo desejo do Apóstolo de levar a todos o Evangelho de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, como anúncio da esperança que realiza as promessas, introduz na glória e não desilude porque está fundada no amor.

4. Com efeito, a esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz: “Se de fato, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida” (Rm 5, 10). E a sua vida manifesta-se na nossa vida de fé, que desenvolve-se na docilidade à graça de Deus e é por isso animada pela esperança, sempre renovada e tornada inabalável pela ação do Espírito Santo.

Na verdade, é o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes a luz da esperança: mantém-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida. Com efeito, a esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino. A propósito escreve Santo Agostinho: “Em qualquer modo de vida, não se pode passar sem estas três propensões da alma: crer, esperar, amar” (Discursos, 198 augm., 2). 

5. Deste entrelaçamento de esperança e redenção, resulta claro que a vida cristã é um caminho, que precisa também de momentos fortes para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus. À luz de tudo isto, de acordo com a tradicional prática da fé, ouvido o Sacro Colégio Cardinalício, pela autoridade de Deus Todo-Poderoso, dos Beatos Apóstolos Pedro e Paulo, para a maior glória de Deus, a exaltação da Igreja Católica e a santificação de todo o povo cristão, PROCLAMAMOS o Ano Santo da Esperança. Este terá início a 02 de Fevereiro de 2025, na Festa da Apresentação do Senhor, e terminará a 08 de Dezembro de 2025, na Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria.

6. A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a esperança. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido da esperança evangélica. Talvez, há demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da esperança. Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que este é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso da virtude evangélica da esperança! É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos.

7. Além de beber a esperança na graça de Deus, somos também chamados a descobri-la nos sinais dos tempos, que o Senhor oferece. Olhar para o futuro com esperança equivale a ter também uma visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir. Infelizmente, em muitas situações, temos de constatar que falta esta perspectiva, por causa dos ritmos frenéticos da vida, dos receios face ao futuro, da falta de garantias laborais e de adequada proteção social, de modelos sociais ditados mais pela procura do lucro do que pelo cuidado das relações humanas.

Por isso, a comunidade cristã não pode ficar atrás no apoio à necessidade duma aliança em prol da esperança, que seja inclusiva e não ideológica, e trabalhe por um futuro marcado pelo sorriso de tantos que, em muitas partes do mundo, têm convivido com as lágrimas, as inseguranças e receios do viver. Todos, na realidade, sentem a necessidade de recuperar a alegria de viver, porque o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26), não pode contentar-se com sobreviver ou ir vivendo num conformar-se com o tempo presente, satisfazendo-se com realidades apenas materiais. Isto fecha-nos no individualismo e corrói a esperança, gerando uma tristeza que se aninha no coração, tornando-nos amargos e impacientes.

8. No Ano Santo, seremos chamados a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade, para tanto, durante este ano de jubileu, concedemos indulgência plenária, remissão e perdão de todos os pecados a todos os fieis que, com verdadeiro arrependimento, cumprirem as condições já estabelecidas para o lucro de indulgências, receberem a Sagrada Comunhão e participar devotamente das ações deste Ano Santo. 

9. No caminho rumo ao Ano Santo, voltemos à Sagrada Escritura e sintamos, dirigidas a nós, estas palavras: “Nós que procuramos refúgio n’Ele, encontramos grande estímulo agarrando-nos à esperança proposta. Nessa esperança, temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu, onde Jesus entrou como nosso precursor” (Hb 6, 18-20). É um forte convite a nunca perder a esperança que nos foi dada, a mantê-la firme, encontrando refúgio em Deus.

10. Portanto, há de ser um Ano Santo caracterizado pela esperança que não conhece ocaso, a esperança em Deus. Que nos ajude também a reencontrar a confiança necessária, tanto na Igreja como na sociedade, no relacionamento interpessoal, nas relações internacionais, na promoção da dignidade de cada pessoa e no respeito pela criação. Que o testemunho crente seja fermento de esperança genuína no mundo, anúncio de novos céus e nova terra (cf. 2 Pd 3, 13), onde habite a justiça e a harmonia entre os povos, visando a realização da promessa do Senhor.

Dado em Roma, junto do túmulo do Apóstolo Pedro, sob o selo do Pescador, no dia 16 do mês de Janeiro, no ano do Senhor de dois mil e vinte e cinco, no primeiro de Nosso Pontificado.

 Urbanus, Pp.
Pontifex Maximus