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DOM DOMINIQUE CARDEAL MAMBERTI
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
SECRETÁRIO DE ESTADO DA SANTA SÉ
Cidade do Vaticano, 25 de Dezembro de 2025.
Em plena comunhão de fé, de doutrina e de solicitude pastoral com o Santo Padre, Sua Santidade o Papa Bento II, e no exercício do serviço confiado à Secretaria de Estado da Santa Sé, dirigimo-nos conjuntamente a Sua Majestade Fidelíssima Dom Lourenço I, Rei de Portugal; Sua Majestade Imperial Auguste I, Imperador da França; Sua Majestade Imperial e Real Apostólica Maximiliano I, Imperador Germânico; e Sua Majestade Real Chiarina I, Rainha da Itália, bem como aos povos confiados ao vosso governo, lusitanos, franceses, germânicos e italianos, unidos à Sé Apostólica pelo vínculo vivo da fé católica e pela comunhão eclesial.
No dia da solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Igreja, Mãe e Mestra, sente o dever pastoral e moral de recordar, com clareza serena e firmeza caritativa, o verdadeiro significado deste mistério central da fé cristã, que não pertence apenas ao âmbito da piedade privada, mas toca o coração da história, das nações e da responsabilidade pública daqueles que exercem a autoridade. O Natal não é apenas a memória de um nascimento ocorrido no tempo, mas a confissão viva do Mistério da Encarnação do Verbo eterno de Deus, que “se fez carne e habitou entre nós” (cf. Jo 1,14), assumindo plenamente a condição humana sem deixar de ser verdadeiro Deus.
Neste Mistério, a Igreja reconhece o fundamento último da dignidade inalienável de toda pessoa humana. Ao assumir a carne, o Filho de Deus elevou a humanidade inteira, revelando que cada vida, desde a sua origem até o seu termo natural, possui um valor que nenhuma circunstância histórica, política ou econômica pode relativizar (cf. Gaudium et Spes, 22). O Menino de Belém, nascido na pobreza, acolhido por Maria e José, visitado pelos humildes pastores e reconhecido pelas nações representadas nos Magos do Oriente (cf. Lc 2,8-20; Mt 2,1-12), manifesta que o poder de Deus não se impõe pela força, mas se oferece no amor, na verdade e na humildade.
A Encarnação do Verbo ilumina, assim, o exercício da autoridade temporal. O governo dos povos, quando reconhece a primazia de Deus e a ordem moral inscrita na natureza humana, encontra no Natal um critério seguro para o serviço ao bem comum. A autoridade, segundo a reta razão e a fé cristã, não é domínio arbitrário, mas responsabilidade moral diante de Deus e da história, chamada a promover a justiça, a paz social, a solidariedade entre os povos e a proteção dos mais frágeis (cf. Rm 13,1-4; Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 383).
O Príncipe da Paz, anunciado pelos profetas (cf. Is 9,5) e proclamado pelos anjos na noite santa, “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados” (cf. Lc 2,14), recorda às nações que a paz autêntica não nasce do equilíbrio precário de interesses, nem da imposição do mais forte, mas do reconhecimento da verdade sobre o homem e sobre Deus. Onde o Natal é reduzido a mero símbolo cultural ou sentimental, perde-se progressivamente o sentido da fraternidade, da responsabilidade mútua e do limite moral do poder. Onde, ao contrário, o Mistério da Encarnação é acolhido com fé viva, florescem a reconciliação, a justiça e a esperança.
A Santa Sé, fiel à sua missão espiritual e ao seu compromisso histórico com a diplomacia internacional, reafirma, à luz do Natal do Senhor, a sua constante disposição para promover o diálogo entre as nações, a solução pacífica dos conflitos, a defesa do direito internacional e a cooperação em favor dos povos, especialmente dos mais atingidos pela pobreza, pela violência e pela marginalização (cf. Pacem in Terris, 163-171; Sollicitudo Rei Socialis, 39). A Igreja não se identifica com nenhum projeto político particular, mas jamais renuncia a proclamar a verdade moral que protege a pessoa humana e orienta a vida social.
Neste sentido, o Mistério do Natal interpela de modo particular os governantes católicos, chamados a harmonizar fé, razão e ação pública. A fidelidade à lei moral natural, reconhecida pela reta consciência e confirmada pela Revelação, constitui um serviço imprescindível à liberdade autêntica dos povos (cf. Veritatis Splendor, 51). A defesa da família fundada no matrimônio, a tutela da vida humana, a promoção do trabalho digno, o cuidado com os pobres e a responsabilidade pelo futuro das novas gerações encontram, na Encarnação do Filho de Deus, não apenas uma inspiração espiritual, mas um fundamento objetivo e duradouro.
Ao contemplar o Menino deitado na manjedoura, os povos cristãos reconhecem que Deus entrou na história não para se afastar dela, mas para redimi-la por dentro. Este é o núcleo da esperança cristã: nenhuma noite é definitiva quando Deus se faz presente; nenhuma ferida da humanidade é ignorada quando o Verbo assume a carne; nenhuma nação está condenada ao desespero quando a verdade, a justiça e a caridade orientam a vida pública (cf. Spe Salvi, 3).
À luz deste santo Mistério, elevamos a Deus uma oração particular por Vossas Majestades, por vossas cortes e por todos os povos confiados ao vosso cuidado. Que o exemplo do Cristo humilde e obediente inspire um exercício de autoridade marcado pela prudência, pela justiça e pela misericórdia; que a luz de Belém ilumine as decisões que moldam o destino das nações; e que a paz anunciada pelos anjos encontre expressão concreta nas relações entre os povos e no interior de cada sociedade.
Com estes sentimentos, e confiando todos à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, e de São José, guardião do Redentor, transmitimos, em nome do Santo Padre Bento II e da Santa Igreja, votos sinceros de um Santo e Feliz Natal a Sua Majestade Fidelíssima Dom Lourenço I de Bragança e ao povo português; a Sua Majestade Imperial Auguste I e ao povo francês; a Sua Majestade Imperial e Real Apostólica Maximiliano I e ao povo germânico; e a Sua Majestade Real Chiarina I e ao povo italiano. Que a bênção do Menino Deus desça abundantemente sobre as vossas nações, fortaleça os vossos governantes na responsabilidade moral que lhes foi confiada e conduza todos os povos pelos caminhos da verdade, da justiça e da paz.
Dado em Roma, junto a São Pedro, aos vinte e cinco dias do mês de dezembro, do ano de Nosso Senhor de dois mil e vinte e cinco.


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