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Mensagem do Papa Bento II à todos os fiéis | Por ocasião do Natal do Senhor

 


BENEDICTUS, PAPAM
PONTIFEX MAXIMUS

AD PERPETUAM REI MEMORIAM

Na fulguração serena do mistério do Natal, quando o Verbo eterno, “que estava junto de Deus” e “era Deus” (cf. Jo 1,1), se dignou reclinar-se na pobreza do tempo e da carne, eleva-se novamente diante de nós a pergunta decisiva que atravessa os séculos e perscruta os corações: unum est necessarium (cf. Lc 10,42). Na gruta de Belém, onde o Infinito se deixa conter e o Altíssimo se faz pequeno, a vida religiosa da Igreja encontra a sua gramática mais pura, o primado absoluto de Deus. Não se trata de uma fuga do mundo, mas de uma adesão radical àquela luz que “resplandece nas trevas” (cf. Jo 1,5) e que somente assim é capaz de iluminar o mundo. O consagrado, à semelhança de Maria que “guardava todas estas coisas, meditando-as em seu coração” (cf. Lc 2,19), torna-se sinal escatológico de que a Igreja vive do essencial e para o essencial, lembrando a todos que a verdadeira fecundidade nasce da escuta e da obediência amorosa ao Deus feito carne.

Qeste mesmo mistério brota a vida vocacional da Igreja, que não é fruto de improvisações sentimentais, mas expressão orgânica de uma instituição sabiamente plasmada ao longo dos séculos pela ação do Espírito. Assim como o Menino foi apresentado no Templo segundo a Lei (cf. Lc 2,22), também as vocações são nutridas no seio de estruturas que, longe de sufocar o conduzem à maturidade. A Igreja, mãe e mestra, proclama o Evangelho não apenas pela palavra anunciada, mas pela forma visível de sua ordem, na qual cada chamado encontra lugar, ritmo e missão. Nessa harmonia, a vocação pessoal deixa de ser um itinerário isolado e torna-se sinfonia eclesial, testemunhando que “há diversidade de dons, mas o mesmo Espírito” (cf. 1Cor 12,4), e que a alegria do chamado floresce quando enraizada na comunhão.

À luz do Natal, também a história e a missão da Soberana Ordem de Malta se oferecem como parábola viva para os povos e para os reinos. Naquele que não encontrou lugar na hospedaria (cf. Lc 2,7), a Ordem reconhece o Senhor que continua a bater às portas da humanidade sofredora. A reunião de seus chefes, provenientes de diversas nações, torna-se sinal visível de uma hospitalidade que transcende fronteiras e de uma caridade que não conhece cálculos. Como os Magos que, vindos do Oriente, convergiram para um único ponto de luz (cf. Mt 2,1-2), assim também as nações, ao se encontrarem sob o signo do serviço aos pobres e aos doentes, manifestam que a verdadeira soberania se exerce no dom de si. A Ordem, fiel à sua vocação, recorda à Igreja e ao mundo que a caridade não é acessório moral, mas epifania concreta do Deus que se fez próximo.

Neste horizonte, a Cúria Romana revela o seu sentido mais profundo como organismo a serviço da proclamação do Evangelho. À semelhança dos pastores que, após terem visto o Menino, “divulgavam o que lhes fora dito” (cf. Lc 2,17), a Cúria existe para servir à difusão fiel e ordenada da Boa-Nova, garantindo que a palavra que ecoou em Belém continue a ressoar, sem deformações, até os confins da terra. Sua institucionalidade, muitas vezes incompreendida, encontra no Natal a sua chave hermenêutica, servir ao mistério da Encarnação, onde o eterno assume formas históricas para alcançar todos os homens. Assim, a Cúria não vive para si mesma, mas para que a Igreja, una e católica, possa anunciar com clareza que “hoje vos nasceu um Salvador” (cf. Lc 2,11), e que neste “hoje” se concentra a esperança do mundo.

Que este santo tempo natalino, impregnado do silêncio eloquente de Deus, conceda à Igreja renovar-se na fidelidade ao essencial, na maturidade de suas vocações, na caridade que se faz serviço visível e na ordem que sustenta o anúncio do Evangelho. Assim, como os pastores que voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido (cf. Lc 2,20), também nós possamos regressar às nossas tarefas quotidianas transformados pela certeza de que o Eterno entrou no tempo, para que o tempo fosse definitivamente habitado pela esperança.

Desejo a todos um
Feliz Natal
e, por ocasião desta grande solenidade, concedo a todos a minha
Benção Apostólica.

Dado em Roma, junto de São Pedro, sob o Nosso Anel do Pescador, no vigésimo quinto dia do mês de dezembro de dois mil e vinte e cinco, no primeiro de Nosso Pontificado, Solenidade do Natal do Senhor.