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Congregação dos Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica | A Obra do Espírito na Multiplicidade dos Carismas: Louvor à Vida Consagrada e à Unidade Eclesial

 
DOM FREI ANSELMO WEBER, OFMCap
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO DOS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA

A vós, irmãos, paz e fé da parte de Deus, o Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Neste tempo em que a Igreja se volta com renovado ardor à sua missão de ser sacramento de salvação para todos os povos, é com júbilo espiritual e reverência que exaltamos o dom inestimável das ordens e congregações religiosas, que, com sua multiplicidade de carismas, são um reflexo concreto da divina providência que governa e vivifica o Corpo Místico de Cristo.

DIVERSIDADE QUE EDIFICA A UNIDADE DO CORPO MÍSTICO DE CRISTO

Desde os primeiros tempos da Igreja, a vida consagrada tem-se manifestado como um dos mais esplêndidos sinais da ação do Espírito Santo, o qual, com generosidade inefável, distribui dons e ministérios para a edificação da comunhão eclesial. Em sua carta aos coríntios, o apóstolo Paulo nos recorda com sublime clareza: "Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos" (1 Cor 12, 4-6).

As ordens e congregações religiosas são, por excelência, a manifestação visível dessa diversidade de dons, que, embora variados, convergem para a mesma finalidade: a maior glória de Deus e o crescimento do Seu Reino entre os homens. Em meio a tantas formas de vida, expressas nos diferentes votos e missões, existe uma única fonte que as anima e as sustenta: o Espírito Santo, que suscita, em cada época e lugar, novas respostas às necessidades da Igreja e da humanidade.

CARISMAS COMO RIQUEZAS INCOMPARÁVEIS DA IGREJA

Os carismas dados às ordens religiosas são dons que, na sua pluralidade, contribuem de maneira essencial para a harmonia e para a unidade do Corpo Místico de Cristo. A Ordem dos Frades Menores, com o luminoso carisma da pobreza evangélica e do amor pela criação, fundado por São Francisco de Assis, resplandece como um farol de simplicidade e fraternidade universal. Os beneditinos, sob a sábia regra de São Bento, revelam a profunda integração entre o labor humano e a contemplação, sendo não apenas guardiães de uma tradição monástica secular, mas também de uma rica cultura que atravessou e moldou os séculos. Os dominicanos, filhos de São Domingos, ardem no zelo pela pregação da Verdade, sendo fiéis ao ideal de contemplar e entregar aos outros os frutos da contemplação.

Cada um desses carismas, e tantos outros que poderíamos citar – como os dos jesuítas, dos carmelitas, dos salesianos e das missionárias da caridade – constituem um verdadeiro tesouro espiritual, pois eles tornam a Igreja não apenas mais rica em dons, mas também mais capaz de responder aos desafios e às necessidades dos tempos. Aqui, a diversidade, longe de ser fragmentação, é a chave de uma profunda harmonia espiritual, onde a multiplicidade de carismas não é dispersão, mas a manifestação da unidade no Espírito.

A UNIDADE QUE SE MANIFESTA NA DIVERSIDADE DE MINISTÉRIOS E NA OBEDIÊNCIA

Com profunda reverência, contemplamos como, a partir desta diversidade, emerge uma unidade inquebrantável. A diversidade de carismas das ordens e congregações religiosas, longe de fragmentar o corpo eclesial, constitui, de fato, uma extraordinária fonte de unidade. Como ensina o Concílio Vaticano II, a Igreja é, ao mesmo tempo, uma e multiforme, e "os diversos dons que se encontram entre os fiéis têm uma única origem e um único fim" (Lumen Gentium, 7). As ordens e congregações religiosas demonstram isso de maneira exemplar: na medida em que se dedicam a múltiplas áreas de apostolado – a educação, a saúde, a evangelização, o serviço aos pobres, a vida contemplativa – todas, sem exceção, estão orientadas para o bem comum da Igreja e para a glorificação do Nome de Deus.

Parte fundamental desta unidade encontra-se no voto de obediência, que todos os religiosos e religiosas professam, colocando suas vidas inteiramente nas mãos de seus superiores, e, em última análise, de Deus. A obediência é o elo que une os diversos membros de uma comunidade e, mais amplamente, une as ordens e congregações à missão universal da Igreja. Esse voto, longe de ser uma renúncia ao pensamento ou à liberdade pessoal, é, na verdade, a expressão mais plena da liberdade cristã, que se encontra em entregar-se inteiramente à vontade de Deus, confiando que Ele guia, através da hierarquia da Igreja, os passos de Seus filhos consagrados.

Um exemplo eloquente desta obediência se encontra na vida de São Francisco de Assis, que, mesmo em sua radical busca pela pobreza e simplicidade evangélica, sempre submeteu sua vontade à autoridade da Igreja, reconhecendo nela a voz de Cristo. Quando confrontado por seus próprios irmãos ou por autoridades eclesiásticas que lhe pediam para moderar certos aspectos de sua regra, São Francisco, na humildade e obediência, aceitou as correções, mostrando que a verdadeira grandeza espiritual está em harmonizar os carismas pessoais com a autoridade eclesial, preservando assim a unidade do corpo eclesial.

Essa unidade, visível na multiplicidade de formas de vida religiosa, recorda-nos que a Igreja é chamada a ser "um só corpo e um só espírito" (Ef 4, 4), onde cada membro, ainda que diverso em seu carisma ou ministério, contribui para a edificação do todo. A vida religiosa, com suas distintas formas de consagração, é, pois, uma imagem viva da comunhão trinitária, onde o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo três Pessoas distintas, vivem em perfeita unidade de amor.

A VIDA RELIGIOSA COMO TESTEMUNHO ESCATOLÓGICO E DINAMISMO MISSIONÁRIO

Nesta diversidade unificada, as ordens e congregações religiosas também desempenham um papel escatológico inestimável. Elas testemunham, por meio de seus votos de pobreza, castidade e obediência, a realidade do Reino dos Céus, para o qual todos somos chamados. Na renúncia ao mundo e na total entrega a Deus, elas lembram à Igreja que somos peregrinos nesta terra, aguardando a plenitude da vida em Deus.

Ao mesmo tempo, a vida religiosa é também um grande motor missionário para a Igreja. Impelidas pelo Espírito, as ordens e congregações religiosas têm sido pioneiras na evangelização dos povos, levando a luz do Evangelho a territórios até então inexplorados. Este dinamismo missionário continua a ser uma fonte de renovação para a Igreja, que, em meio às rápidas transformações de nossa era, é chamada a reencontrar sua identidade como uma Igreja em saída.

CONCLUSÃO: UM CÂNTICO DE LOUVOR À DIVERSIDADE NA UNIDADE

Convido toda a Igreja a elevar um cântico de louvor a Deus, que, em Sua infinita sabedoria e bondade, tem enriquecido o Seu povo com a multiforme graça dos carismas das ordens e congregações religiosas. Que este testemunho de unidade na diversidade, selado pelo voto de obediência, continue a inspirar todos os fiéis, especialmente as novas gerações, a seguir com coragem o chamado do Senhor para a vida consagrada.

Que a Virgem Santíssima, modelo de entrega total a Deus, acompanhe e proteja todos os religiosos e religiosas com seu manto materno. Que a sua intercessão traga abundantes frutos de santidade e renovação espiritual à nossa Igreja.

Dado em Roma, no vigésimo primeiro dia do mês de outubro, do Ano do Senhor de dois mil e vinte e quatro.

Fraternalmente,


Dom Frei Anselmo Weber, OFMCap