Discurso do Papa João | Audiência com os membros da Cúria Romana

DISCURSO DE SUA SANTIDADE JOÃO
NA AUDIÊNCIA COM OS MEMBROS DA CÚRIA ROMANA

Sala Clementina
Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2024
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Queridos irmãos e irmãs!

É com grande alegria que vos revejo, caríssimos integrantes da Cúria Romana, nesta primeira audiência curial do meu pontificado e do corrente ano. A todos vós, minha cordial saudação, a começar pelo Cardeal Decano, a quem agradeço pelas palavras de estima e acolhida, fazendo-se porta-voz de todos.

Convoquei-os para esta audiência não para repetir os diagnósticos pessimistas sobre o desempenho da Cúria.  Evidentemente, há dificuldades que precisam ser superadas. Contudo, ouso propor uma mudança de enfoque. Para hoje, concentremo-nos menos nos problemas e mais nas soluções. A esperança é um forte antídoto contra o pessimismo imobilizador. Não a esperança passiva, apenas expectante; mas a esperança proativa, que transforma a realidade.

Caríssimos irmãos e irmãs! Dando prosseguimento às reformas iniciadas por meus predecessores, anuncio, em primeira mão, a promulgação da Constituição Apostólica “Christus Dominus et Pastor”, que visa expandir e complementar as competências dos diversos organismos da Cúria Romana.

Para garantir a aplicação correta desta Constituição Apostólica, passo a fazer algumas considerações importantes. 

A imagem de uma Cúria como um instrumento meramente burocrático, “voltada ao despacho irracional de diretrizes e documentos que se acumulam e criam entraves”, conforme exortava o venerável Papa Bento IX, está fadada ao fracasso. Urge uma mudança de mentalidade pastoral. Neste novo caminho, devemos resgatar a verdadeira essência do serviço eclesial, que está na base do nosso apostolado: a missão evangelizadora da Igreja. Isso requer uma postura pastoral que transcenda as fronteiras dos gabinetes. A Cúria deve ser, antes de tudo, um meio para a promoção do Reino de Deus. Seu papel administrativo não pode ser dissociado do imperativo de anunciar o Evangelho com alegria e autenticidade.

Diante disso, gostaria de indicar três requisitos para um bom desempenho das nossas atividades enquanto Cúria. 

Em primeiro lugar, a humildade. A busca pelo poder, reconhecimento ou influência pessoal deve ser substituída pelo desejo sincero de servir e contribuir para o Reino de Deus.  Sem humildade, corremos o risco de nos perder em agendas pessoais e de nos afastar do verdadeiro propósito do serviço eclesial. Cada ação realizada pelos Dicastérios da Cúria Romana deve refletir o serviço desinteressado ao corpo de Cristo.

Em segundo lugar, a comunhão. A Cúria Romana não é uma coleção de departamentos isolados, mas um corpo interligado que trabalha em unidade para o bem da Igreja. Sem comunhão, corremos o risco de nos tornar colaboradores desconexos, competidores que buscam apenas posições vantajosas e a satisfação de interesses pessoais, negligenciando a causa comum que nos mantém unidos: o anúncio do Evangelho. É fundamental que as decisões dos Dicastérios não sejam tomadas de forma isolada, mas em diálogo fraterno, considerando as diversas perspectivas presentes na Cúria.

Por fim, a missão. A dimensão missionária da Igreja deve orientar os trabalhos da Cúria Romana. Cada Dicastério deve ser um agente ativo na propagação da mensagem redentora de Cristo. Ao aderir a vocação missionária, a Cúria Romana se compromete a ser mais do que uma simples estrutura burocrática; ela se torna uma expressão tangível do amor de Deus em ação.

Para concluir, gostaria de agradecer antecipadamente o vosso comprometimento e dedicação ao serviço da Igreja. Nossa missão é desafiadora, mas com a graça divina, a sabedoria do Espírito Santo e a colaboração fraterna, superaremos qualquer obstáculo. Que a Constituição Apostólica “Christus Dominus et Pastor” seja nossa bússola e que, ao aplicarmos suas diretrizes, possamos fortalecer a vitalidade e a eficácia da Cúria Romana. Por favor, não vos esqueçais destas três palavras: humildade, comunhão e missão. Obrigado!


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