DOMINUS ALDUS VICTORIUS MARIAE FISICHELLA
EX DEI MISERICORDIAE ET A SANCTA SEDE APOSTOLICA
CARDINALIS EPISCOPUS FRASCATENSIS
PRAEFECTUS CONGREGATIONIS DE CULTU DIVINO
ET DISCIPLINA SACRAMENTORUM
A todos quantos este dignarem-se acolher,
saúde e paz.
Com grande alegria, apresentamos este roteiro homilético preparado por Sua Eminência, o Cardeal Aldo Vittorio Maria Fisichella, como auxílio pastoral para o clero e todos os que se dedicam ao serviço da Palavra. Este subsídio oferece uma reflexão breve e densa sobre a liturgia da Palavra do Domingo, integrando a profundidade doutrinal com a clareza pastoral. Seu uso é indicado especialmente para sacerdotes na preparação da homilia dominical, mas também pode servir para grupos de reflexão, ministros da Palavra e fiéis que desejam aprofundar-se espiritualmente nas Escrituras proclamadas.
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"O Evangelho hodierno, ao apresentar a cena doméstica de Betânia, não opõe simplesmente ação e contemplação, mas desnuda a hierarquia ontológica dos fins últimos da existência cristã. A repreensão dirigida a Marta não é condenação da operosidade, mas correção de um coração distraído, descentrado da única coisa necessária: a íntima união com o Logos encarnado. Vivemos tempos em que a alma se dispersa em miríades de ocupações efêmeras, esquecendo-se do télos supremo: a visão beatífica e o amor perfeito de Cristo. O coração humano, criado para o eterno, entretém-se com o acessório, ignorando o essencial. Saúde, bens, honrarias, labor: tudo isso nos será inexoravelmente subtraído. Apenas o vínculo interior com o Redentor permanecerá incólume diante da morte. Não se exige que todos ingressem na clausura monástica, mas que cada fiel cultive, mesmo entre as lides quotidianas, uma interioridade monástica: uma atenção indivisa ao Esposo da alma. Que se cozinhe, que se trabalhe, que se administre, mas com os olhos do coração fixos no Verbo que visita a nossa tenda. A tragédia de Marta não foi sua diligência, mas o obscurecimento da finalidade última. Maria, por sua vez, corporifica o discipulado puro, a escuta silenciosa que se deixa fecundar pela Palavra. Oh, que ingratidão esquecê-lo, Ele que por nós se oblacionou até a efusão do sangue! Que ao menos o nosso coração se converta em altar vivo, onde a única coisa necessária jamais seja relegada."